O valor do diminutivo em Bragança

10 de dezembro de 2014 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem

Aproveitei o feriadão de 8 de dezembro para visitar Bragança, no extremo norte de Portugal. De ônibus, a cidade fica a seis horas de Lisboa (a passagem custa €19,60) e, não fosse a companhia do meu amigo Ricardo, a sensação seguramente seria de muito mais tempo. Durante essas seis horas, destrinchamos vários assuntos, desde meu ódio inexplicável pelo Daniel Craig até o sistema de cunhagem de moedas do Império Romano. Inexplicável também é por que a rodoviária do Porto, onde paramos por 25 minutos, é tão pequena.

Dia 1

bragança

Chegamos a Bragança por volta das 15h30 do sábado, dia 6, e logo de cara percebemos que não tínhamos os acessórios ideais para suportar o frio. Ficamos hospedados no hotel S. Lázaro. Aparentemente, não faz sentido um dos principais hotéis da cidade localizar-se em um lugar tão afastado, porém um habitante local explicou que as pessoas procuram mais as atrações no entorno da cidade, e não a cidade em si. O fato é que o hotel é muito grande e muito bom, além de ser muito barato: €24 a diária, com café incluído.

Eu já tinha percebido, quando visitei Braga, no ano passado, que algumas pessoas trocam o v pelo b. E em Bragança também é assim. Notei quando perguntamos ao recepcionista do hotel onde poderíamos comer ali por perto. O local que ele nos indicou ficava em frente ao hotel Íbis, que era possível avistar poucos metros após sairmos do S. Lázaro. Mas a maneira como ele deu a informação foi tão confusa que ficamos em dúvida se era aquele Íbis mesmo.

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Já era noite quando chegamos ao tal lugar, embora o relógio marcasse quase 17h. Na TV, o Benfica enfrentava o Belenenses. Eu incorporei um anão de Tolkien e comi rojões (carne de porco muito, mas muito gordurosa) com um litro de cerveja (€7). Mas como o lugar se chamava Petiscos, o jantar ainda estava por vir.

Caminhamos em direção à cidade decididos a comprar gorros, luvas e cachecóis, já que o frio havia apertado. Já era por volta das sete da noite quando fomos para o centro histórico. Ficamos impressionados com a pouquíssima quantidade de pessoas na rua. Apesar de estar muito frio, aquilo me pareceu muito estranho. Só no shopping e na pista de patinação é que havia mais gente.

Não era necessário, aliás aquilo foi um pecado, mas eu comi uma costeleta de vitela no restaurante O Manel (€14) e, se não fosse a caminhada de volta, que me ajudou a digerir parte daquele monte de gordura, ia ser muito difícil dormir aquela noite.

Dia 2

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No dia seguinte, 7, tomamos o café no hotel e partimos para o centro histórico da cidade. Como era domingo, o centro de informações turísticas estava fechado. Isso pra mim não faz sentido. Por menor que seja a cidade, sábados, domingos e feriados são os dias em que a maior parte das pessoas podem visitá-la. Nós tínhamos um mapa turístico, que pegamos no hotel, mas normalmente os funcionários específicos da área são mais aptos a indicar os melhores roteiros.

Deixando o mimimi de lado, começamos a explorar o mapa ponto a ponto. No terceiro deles, constatamos que não somos muito bons de cartografia e simplesmente seguimos a esmo pelas ruas da cidade que mais pareciam merecer serem vistas, até que chegamos ao castelo. Já ouvi dizer que quem viu um castelo viu todos, mas eu não me canso. O castelo de Bragança é rodeado por um jardim muito bonito, principalmente no outono, quando o chão fica repleto das folhas alaranjadas que caíram das árvores.

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Dentro das muralhas, fica o pelourinho e a igreja de Santa Maria, entre outros pontos que valem a visita, como a lojinha de artesanato do Tozé, que fabrica máscaras usadas em festas típicas da região. A história dessa tradição pode ser conferida a poucos metros da loja, no Museu Ibérico da Máscara e do Traje.

Saindo do castelo, descemos em direção à Sé e depois ao rio Fervença, que acompanhamos pelo corredor verde que o margeia. Em determinado ponto, logo após o Centro Ciência Viva de Bragança, seguimos por uma estrutura de metal que fica entre as casas e a orla do rio até chegarmos à Rua do Pontão, pela qual subimos até o Largo do Principal, onde fica a Igreja de S. Vicente e um pequeno monumento em homenagem aos combatentes brigantinos da I Guerra Mundial.

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Voltamos ao castelo, onde comemos no restaurante em frente à Igreja de Sta. Maria e de lá partimos para o hotel, acompanhando o pôr-do-sol. A meteorologia previa -1º à noite e já àquela hora percebemos que realmente caminhávamos para isso.

Faltava ainda um elemento típico do lugar que precisávamos conferir: a posta mirandesa. A receita consiste basicamente em 300 g de carne de vitela assada na brasa e banhada em azeite. Mesmo assim, o garçom, ao anotar o pedido, confirmou singelamente: uma postinha. Quando vi aquele mundo de carne vermelha suculenta e minando sangue, me lembrei da noite anterior e recuei. Comi um terço da minha porção e desisti, envergonhado.

Na segunda-feira, dia 8, tomamos o ônibus de volta para Lisboa e, no caminho, elegemos a simpatia dos brigantinos como um dos pontos altos da cidade. Essa característica deve ser, sem dúvida, levada em consideração ao decidir visitar Bragança.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.