Cinco horas em Évora

2 de novembro de 2014 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem

Uma grande vantagem de Portugal é que as cidades são muito próximas umas das outras. Em sete horas, é possível ir de Bragança, no extremo norte do país, a Faro, no extremo sul. Para o leste, menos ainda, já que o país tem um território estreito, e em muito pouco tempo de viagem, saindo de Lisboa, já se veem as placas indicando que a Espanha é logo ali. Além de tudo ser muito perto, os sistemas de transporte rodoviário e ferroviário são muito eficientes.

Por isso, viajar por Portugal é uma ótima ideia. Foi o que aconteceu ontem. Acordei mais cedo que o natural para um sábado, pois precisava ir a um laboratório ser violentado retirar sangue. Voltei para casa antes das dez e estava inquieto demais pra fazer o que quer que fosse dentro de casa. Nem assistir a um filme eu queria, o que é raro. Foi então que eu me lembrei de Évora.

Évora

Vista do rio Tejo desde a Ponte 25 de Abril.

Muitas pessoas já haviam me falado sobre a cidade, como era é linda e, de tão pequena, um dia seria suficiente para conhecê-la. Entrei no site da Rede Expresso e comprei a passagem de ida para as 13h45 e de volta para as 20h, por €21,60. Como a viagem duraria uma hora e meia, às 15h15 eu chegaria à cidade e teria pouco mais de quatro horas para explorá-la. Esse tipo de viagem é interessante porque abre espaço para o improviso. O esquema é chegar e caminhar pelo lugar. Dificilmente vai haver tempo para entrar em museus ou visitar qualquer atração do tipo, então o ideal é se libertar ao máximo de guias e deixar-se surpreender, como se você fosse um guitarrista de jazz no meio de uma jam session.

O maravilhoso mundo da Internet e do smartphone – nunca imaginei que fosse dizer isso – permite que não seja necessário imprimir passagens de ônibus. Precisei apenas mostrar o bilhete eletrônico ao motorista do ônibus e seguir para a cadeira 32. Quando a viagem começou, tentei retomar a leitura do Las Venas Abiertas de América Latina, mas as paisagens não permitiram que eu me concentrasse. A primeira imagem que desviou minha atenção foi o rio Tejo. Ao cruzar a Ponte 25 de Abril, o rio dominou o horizonte e nenhuma leitura seria capaz de competir com aquela paisagem. Foi a primeira vez nesses dois anos e três meses vivendo em Lisboa que atravessei essa ponte. Como eu não tinha ideia de onde ficava Évora, a travessia foi mais significativa ainda.

Évora

Vista da cidade a partir do Largo Conde Vila Flor

Chegando a Évora, fui a uma banca de revistas na rodoviária e pedi ao senhor que me atendeu um mapa turístico da cidade, então ele me indicou que fosse ao Centro de Turismo, que ficava no Centro da cidade. No meu entendimento, isso é uma falha, já que um terminal rodoviário concentra uma grande quantidade de turistas e por isso deve disponibilizar pelo menos as informações básicas.

Portanto eu tinha duas opções: seguir as pessoas que aparentavam um semblante de quem estava indo ao Centro da cidade, ou perguntar a alguém por qual direção ir. Além, claro, da opção bônus, que era simplesmente pegar um táxi. Então fiz algo raro – embora extremamente necessário em viagens: resolvi perguntar. E funcionou! Caminhei uns cinco minutos e cheguei a uma das portas de Évora, a Porta do Raimundo. Subi pela Rua do Raimundo até a Praça do Giraldo, onde fica o Centro de Turismo, e lá peguei o mapa turístico da cidade para começar o tour.

Évora

Ruínas do Templo Romano de Évora

O ponto número 1 do mapa era a própria Praça do Giraldo. De lá segui para a Catedral, onde ajudei uma senhora a subir as escadarias com o carrinho de bebê e me senti em Odessa. Saindo da Catedral, segui para o Largo do Conde Vila Flor e me deparei com as ruínas de um templo romano. Eu poderia apenas ter virado a folha do mapa e lido sobre cada ponto, mas não fiz isso e deixei a cidade me levar. Aí bateu a fome. Dica: a melhor maneira de economizar em viagens é levar comida de casa. Claro que se for uma viagem longa, isso não será sempre possível, mas em uma viagem que vai durar umas oito horas, é extremamente viável. Foi o que fiz. Antes de sair de casa, preparei um sanduíche de presunto, enrolei no papel alumínio e coloquei na mochila.

Évora

Alunos da Universidade de Évora com o traje acadêmico.

O próximo ponto do mapa seria o Largo de S. Miguel, mas me perdi completamente e fui parar na Universidade de Évora. Lá estavam acontecendo as praxes, que no Brasil conhecemos como trote. Basicamente os alunos novatos têm que pagar as prendas que os veteranos propõem. Assim como no Brasil, há quem exagere e, assim como no Brasil, existe a polêmica sobre essa prática. O que interessa é que tinha uma van da Somersby distribuindo sidra de graça.

Évora

Mensagem sob um dos arcos do Aqueduto da Água da Prata.

Tendo me localizado novamente no mapa, rumei para a Rua do Cano, onde fica o Aqueduto da Água da Prata, que foi construído há quase 500 anos. Acompanhei a estrutura até a rua do muro, que, como o próprio nome diz, é a rua rente à muralha que rodeia a cidade. O sol já estava se pondo e a cidade foi ficando mais bonita ainda, refletindo a luz amarela que se expandia pelo horizonte.

Évora

Rua em Évora ao pôr-do-sol

Os pássaros revoavam para algum lugar quando eu estava indo em direção ao último ponto do mapa, o Jardim Público, mas a entrada que eu escolhi usar estava fechada e deu preguiça de procurar outra. Já era noite quando sentei em um bar da Praça do Giraldo para tomar uma cerveja enquanto dava a hora de voltar para a rodoviária, onde, às oito em ponto, tomei o ônibus de volta para Lisboa.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.