O mundo para quem tem medo de altura

6 de fevereiro de 2015 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem

Aviões, montanhas, teleféricos. O mundo pode ser assustador para quem tem medo de altura, como eu. Já falei neste blog sobre o pavor que tenho de decolagens. Mesmo após tantos voos, não consigo ficar tranquilo quando o avião se inclina e ganha o céu. Mas é um medo estranho, porque, lá em cima, estável, sobre as nuvens, e durante todo o processo de aterrissagem, que – dizem – é até mais perigoso que o de decolagem, não tenho medo algum, a não ser quando estou em um modelo de avião em que nunca voei e todos os barulhos são diferentes daqueles aos quais estou habituado.

medo de altura

Antes do meu primeiro voo, tomei um litro e meio de cerveja e tentei agir naturalmente, como se aquela sensação fosse rotineira. Mas quando senti que não estava mais no chão, o álcool diluiu-se no medo e experimentei momentos assustadores até que a aeronave atingisse os milhares de metros suficientes para que eu pudesse me tranquilizar. Mais de trinta decolagens depois, não posso dizer que gosto da sensação, mas pelo menos me acostumei. Porém, o mundo me ofereceu outras situações para que minha acrofobia desse um alô de vez em quando.

Os teleféricos

Em um domingo que prometia ser de tédio em Medellín, me reuni com o pessoal e fui para o Parque Arví. Uma das maneiras de chegar ao lugar é utilizando a linha L do Metrocable, que é um teleférico, mas que possui linhas regulares utilizadas como transporte público em determinadas áreas da cidade. A distância entre a estação de Santo Domingo e a estação do Parque Arví é de 4,6 km e a travessia pelo Metrocable dura em torno de 15 minutos. Mas a sensação é de que eu ainda estou lá, pendurado. A vista é espetacular, claro, mas para mim foram 900 segundos de terror.

medo de altura

Quatro anos antes, eu havia tido outra experiência com um teleférico, dessa vez em Ubajara, no interior do Ceará. O percurso tem apenas 550 metros e dura uns três minutos. Eternos três minutos. Porém, mais uma vez, a paisagem valeu a pena. Três anos depois, no Rio de Janeiro, vivi outros momentos bem tensos no trem do Corcovado. Mas pelo menos não estava pendurado em nada, tive apenas que confiar na técnica do condutor do veículo a 710 metros de altura. Em Tromsø, na Noruega, também em troca de uma paisagem memorável, percorri 420 metros sobre o mar no teleférico suspenso por cabos durante quatro longos minutos.

A montanha

Os três teleféricos citados no último parágrafo situam-se em montanhas. À exceção do de Ubajara, que leva a uma gruta, os outros dois me levaram para o alto. Nem preciso dizer nada sobre a vista do Rio de Janeiro a partir do Corcovado. Apesar de eu ter ido à noite, ainda assim deu para contemplar uma imagem muito bonita. Já em Tromsø, pude apreciar a cidade coberta de neve lá de cima durante o dia, uma das paisagens mais bonitas que já testemunhei. Mas claro que essa beleza toda não evitou que meu sobrenome mudasse para Vertigem em ambas as situações.

medo de altura

Nada superou, porém, a visita ao Nevado del Ruiz, em Manizales, Colômbia. A montanha tem 4.600 m de altitude e, embora eu não tenha ficado próximo a nenhum precipício ao chegar ao cume, o percurso até lá foi feito de ônibus numa estrada entre a montanha e o abismo numa manhã de chuva. Obviamente que é preciso tirar uma camada de exagero de cada descrição que eu fiz nesse relato, mas quem tem medo de altura, quem tem calafrios ao olhar pra baixo a partir de uma superfície elevada, vai me entender muito bem.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.