Semana Santa – Parte 2 – Aracataca

18 de maio de 2012 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem, Oreo - Eu na Colômbia

Dia 3: “Macondo era entonces un puñado de veinte casas de barro e cañabrava…”

Na terça de manhã, saímos muito cedo do hostal em direção à rodoviária. Próxima parada: Aracataca, cidade natal de Gabriel García Márquez, o escritor do qual li mais obras (Douglas Adams não conta porque O Guia do Mochileiro das Galáxias é na verdade a mesma obra dividida em cinco). Na lanchonete da rodoviária em que tomamos o café da manhã, havia uma TV em que era exibido um show de uma cantora que podemos considerar como a Roberta Miranda, versão caribenha. O mais impressionante foi que ela cantou a versão de “Evidências” em espanhol. E foi essa música que a Lívia cantou (em português) na minha despedida no Teresa & Jorge. E então estávamos lá, na cidade em que a Lívia estava fazendo o intercâmbio escutando a mesma música. Fico admirado com a criatividade desse roteirista! A viagem deveria durar quatro horas, mas durou sete por causa de uma obra na estrada. O ônibus (decorado com motivos carnavalesco-gays) não entrou em Aracataca e nos deixou na beira da estrada – menos meus óculos escuros, que ficaram lá dentro. As outras pessoas que estavam no ônibus nos olhavam com uma cara de “Qual é a dessa galera nesse fim de mundo?”. Ao descermos, um bando de mototaxistas que mais parecia a gangue da CG do Árido Movie nos abordou. Mas agora éramos sete (os cinco que saíram de Medellín mais a Lívia, que estava em Cartagena, e o Egon, um soteropolitano que está vivendo em Bogotá e se juntou a nós nessa viagem), então enchemos a van, que precisou ser empurrada para dar a partida. O problema era que eu não tinha imprimido o endereço do hostal, então paramos em uma lan house para olhar o e-mail com o endereço. (E foi nessa lan house que li o e-mail me dizendo que tinha sido pré-selecionado para uma vaga em Lisboa, mas essa é outra história). Ao sair da lan house, encontramos, coincidentemente, o dono do The Gipsy Residence, o hostal de Aracataca. Então ele nos ensinou o caminho. Percebemos desde já que poderíamos fazer tudo a pé, porque, se não é mais um punhado de vinte casas de barro como foi descrita por García Márquez em Cem Anos de Solidão, Aracataca, mais de um século depois, tem um mapa que cabe numa folha de papel A3 numa resolução alta!

Dia 4: “Más que un Hogar, la Casa Era un Pueblo”

aracataca

No dia seguinte, quarta-feira, sob um sol convicto, pegamos o mapa e fomos explorar os pontos turísticos de Aracataca, que se resumem à Casa Museo Gabriel Gárcia Márquez, à Casa del Telegrafista, que estava fechada, à Biblioteca Remedios, La Bella e à estação de trem. Em duas horas vimos tudo, e ainda paramos para uma cerveja. Eu realizei um sonho que alimentava desde 2006, quando li Cem Anos de Solidão e o adotei como o livro da minha vida. Andando por cada cômodo da casa, revivi cada cena: os peixinhos dourados, o quarto dos índios, a castanheira, o acordeão e, ao sairmos, como se fosse combinado, uma dezena de borboletas amarelas se despediram de nós. Aliás, borboletas amarelas estavam desenhadas na maioria dos estabelecimentos da cidade. Depois de visitarmos a biblioteca – onde fomos muitíssimo bem recebidos e pudemos ver as obras de García Márquez em vários idiomas – e de passarmos pela estação de trem, almoçamos na casa de um amigo da Lívia, que estava em Barranquilla, mas sua mãe nos recebeu como se fôssemos da família. Voltamos para o hostal para nos prepararmos para ir embora. (Mas antes de continuar, preciso falar do Tim, o dono do hostal. O cara é um holandês que estava viajando pelo mundo e que, um dia, em Santa Marta, foi convidado por um amigo para um evento em Aracataca. Lá decidiu morar, fundou o hostal e adotou como sobrenome Buendía. Pra mim, ele está no nível ninja de desprendimento.) Pingando de suor, deixamos Aracataca em direção à Santa Marta.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.