Caballero, gózate la vida. Caballero, no lo pienses mas

7 de fevereiro de 2012 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem, Oreo - Eu na Colômbia

Os cumprimentos aqui em Medellín são uma coisa muito séria. O valor de um bom-dia ou de um ¿Cómo estás? é diferente do que eu estava acostumado. Na verdade, eu estou acostumado a resumir ao máximo meus cumprimentos. Um gesto de mão e pronto, pra mim já valeu. Mas aqui não. Aqui se você sai e não se despede (mesmo que seja no chat do Facebook), as pessoas reclamam. Pelo menos comigo aconteceu isso.

Caballero, Hay que Gozar la Vida

Eu precisava tirar minha Cédula de Extranjería, que é a identidade do estrangeiro que vai ficar aqui além dos três meses do visto de turista. Como vou ficar (por enquanto) até maio, eu preciso de uma. O problema é que eu descobri isso um dia antes de expirar o prazo de solicitação. E à noite. No dia seguinte, teria que tirar as fotos 3×4 com fundo azul (e é constrangedor quando você diz que só tem fundo branco), descobrir meu tipo sanguíneo, tirar uma dezena de cópias e pagar 145 mil pesos (quantia que eu não tinha e pedi emprestado). Pra facilitar, resolvi fazer tudo isso de táxi. Pesquisei na internet uma clínica onde eu pudesse fazer o exame e, imediatista que sou, escolhi a primeira. Entrei no táxi e o taxista, às 7h da manhã, numa felicidade incompreensível, disse um sonoro ¡Hola, caballero!. Foi o suficiente pra eu ficar com aquela música do Julio Iglesias o resto do dia. Disse-lhe o endereço e fomos.

Padrões, Sempre

A clínica que eu “escolhi” ficava muito longe. O táxi custou 15 mil pesos (R$14,47), o que é uma fortuna. Com essa grana em Fortaleza você anda 20 quarteirões, mas aqui eu fui parar em outro município, mas ainda dentro da zona metropolitana. Embora nunca seja bom você dizer a um taxista que você é de outro lugar, aqui nunca tive problema com isso. Eles sempre perguntam por onde eu quero ir, e eu digo de primeira que não sou da cidade e que ele vá por onde ele achar melhor. E aqui é muito fácil se localizar. Acho que até o Gladson – ou pior – até o Marcim – ou pior ainda – até meu pai saberia se localizar aqui. Existe um padrão, e padrões são sempre bem-vindos. Há as calles e as carreras, perpendiculares umas às outras, e todas têm um número e às vezes um número e uma letra. Há também as transversais, diagonais e circulares, cujos nomes são autoexplicativos. Mesmo que elas tenham nomes, elas também têm um número. Por exemplo, a Transversal 39B se chama Avenida Nutibara, a Calle 44 se chama Avenida San Juan. O problema é quando o nome da rua é um número: a Carrera 81, por exemplo, se chama Avenida 80. É a vida… “So no one told you life was gonna be this way?”. Se você precisa ir ao endereço Calle 30, 82A-26 e está na Calle 43 com Carrera 78 significa que você tem que subir em direção à Carrera 82-A, virar e continuar até chegar à Calle 30. Nem sempre é fácil porque nem todas as ruas são retas, às vezes há ruas que são interrompidas por um quarteirão e continuam depois, mas mesmo que você esteja perdido, você sabe em que direção ir (a não ser que você seja o Gladson, o Marcim ou meu pai, que se perdem, respectivamente, na própria cidade, no próprio bairro e no próprio quarto, sim, no quarto).

O Braço do Jared Leto

Não gosto de agulhas e acho que a medicina deveria parar de investir em prótese de seios e arrumar um jeito de não sermos violentados por aquelas agulhas assustadoras. Já dizia Rui Barbosa que, “assim como o direito veda ao poder humano invadir-nos a consciência, assim lhe veda transpor-nos a epiderme”. Eu sempre acho que vou ficar com o braço igual ao do Jared Leto no Réquiem para um Sonho.

Exagero pra dar um efeito dramático

Tive que tomar a vacina contra febre amarela (no bíceps, ou tríceps, não sei, por isso fiz Letras) ainda no Brasil, não conseguindo disfarçar minha tensão; tive que fazer esse exame pra saber que meu sangue é A positivo – ou negativo, esqueci – e, mal sabia eu, em breve teria outra experiência com agulhas e hospital.

D.A.S.

Tirei as fotos, as cópias e fui ao D.A.S. (Departamento Administrativo de Seguridad) para solicitar minha cédula de extranjería. E, claro, Murphy deu um oi. Eu não tinha todas as cópias, então tive que sair e tirá-las. Voltei ao D.A.S. e, não contente, Murphy me fez esquecer uns papéis na lojinha onde tirei as cópias, então voltei lá, peguei os papéis e voltei ao D.A.S. O senhor que me atendeu, com toda a delicadeza de um rinoceronte fêmea com cólica, ficou mais delicado ainda com esse vai-e-vem. E isso tudo aconteceu enquanto a Karol me esperava do lado de fora. Cada vez que eu saía ela fazia uma cara de “Que burro! Dá zero pra ele!”. Pra encerrar, o computador que capta as impressões digitais estava com o sistema fora do ar e então tive que voltar no dia útil seguinte, que era segunda. E isso parece simples, não fosse minha própria coluna me sabotando.

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Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.