Língua portuguesa – Amo-te, ó rude e doloroso idioma

22 de janeiro de 2012 | Escrito por Filipe Teixeira | Diário de viagem, Oreo - Eu na Colômbia

Cheguei à Casa Trainee meio embriagado das cervejas que tomei com a Karol e o Manuel. Quando entrei na casa, a sala estava escura e, projetado na parede, O Paciente Inglês. Os sofás e as poltronas da sala estavam dispostas parabolicamente em frente ao telão. Tudo isso junto me fez pensar que tinha entrado na casa errada. Mas eu vi a Diana Monsalve sentada em uma das poltronas e fiquei tranquilo: era a casa certa.

Vini Lucena

Domingo é dia de comer e dormir. Foi o que eu fiz. À noite, chegou à Casa Trainee o Vini Lucena, um recifense que estava há uma ano e meio em Cali e que ficará aqui em Medellín até maio, trabalhando no ILP (Instituto de Língua Portuguesa) comigo. Nordestino que é, exala o humor a cada frase. E que frases: “O que é um peido pra quem tá cagado?”; “Ela era tão ruim que não valia um ponto no Bomclube.”; “Acho que essa Coca é Fanta, e de uva!”. É uma companhia muito agradável.

A Rotina

Embora todos reclamemos da rotina, às vezes ela é necessária. E eu, que gosto de padrões, preciso demais de uma rotina. Na segunda, mesmo sendo feriado aqui na Colômbia, fomos a uma reunião no ILP e na terça começamos a trabalhar. Comparada à minha rotina dos dois últimos anos, a do ILP é o céu. Comecei pela manhã revisando as apostilas e à tarde comecei efetivamente a dar aulas. Mas a rotina trouxe a saudade. Na terça-feira percebi que a saudade não é só de quem fica, mas também de quem vai. A concentração no trabalho desfaz um pouco as sensações ruins, principalmente quando estou dando aula. Mas na primeira semana, em que todas as manhãs meu trabalho era só ler, me distraía fácil com a saudade da família, dos amigos.

A Sopa

No dia em que fui almoçar na casa da Karol, como já falei, tinha uma sopa de entrada. Aí eu pensei que era uma algo eventual do tipo “vamos fazer uma coisa especial pro estrangeiro”. Mas não, é só um costume. No primeiro dia de trabalho, fui almoçar em um restaurante e lá estava a sopa. E a banana frita, claro. Um dia, não quis sopa e o garçom ficou meio espantado. Mas o importante é que é muito barato – sopa + um pedação de carne + arroz + salada + batata frita + suco grande + cafezinho depois por 5 mil pesos, ou R$4,80 – muito barato.

Quadrilha

Minha primeira turma na verdade é uma dupla de zootecnistas que vão estudar no Brasil. E logo de cara joguei Carlos Drummond de Andrade pra elas. Não lembrava como era a sensação maravilhosa que é dar aula pra pessoas que realmente querem saber o que eu estou dizendo. Falar de literatura, música, cultura pra quem se interessa por isso provoca uma sensação de dever cumprido e justifica o fato de eu estar lá. Analisar o poema “Quadrilha” e perceber que as pessoas, mesmo que fossem só duas, deram o valor devido àquilo que eu estava fazendo me fez ter certeza de que nasci pra isso e de que quero continuar.

A Última Flor do Lácio

Vou fazer uma declaração de amor ao meu idioma no estilo Olavo Bilac. Aqui eu percebi como ele é lindo e único. Eu moro com um pernambucano, um mineiro e uma goiana e embora todos falemos português, parece que são quatro línguas diferentes, com seus sotaques e expressões próprios. E todos nós conseguimos nos comunicar em espanhol ou em inglês. Mas quando falamos português, os colombianos e os outros estrangeiros com quem moramos simplesmente se perdem. Eles não acompanham nosso ritmo, nossa desenvoltura e nossas reduções. Por isso “Amo-te assim, desconhecida e obscura“, língua portuguesa!

Deixe um comentário

Escrito por Filipe Teixeira

Escritor amador e ansioso profissional.